CURADOR FERIDO
A figura do curador ferido, que tem como exemplos Xapanã (Candomblé), Centauro Quíron e Jesus Cristo, é de extrema relevância para o campo da saúde, pois a sua ideia provoca uma reflexão sobre a importância da empatia[1] no campo profissional.
Para corroborar com o entendimento exposto acima, é importante ressaltar que o curador ferido é a pessoa que se propõe a ser curadora ou cuidadora e que tenha necessariamente passado pelo processo da dor, do sofrimento, e da doença, não se curando de suas feridas. Salienta-se que somente com esse processo se poderá alcançar o objetivo, que é curar e cuidar. Desse arquétipo, parte-se para a reflexão das práticas que um cuidador deve desenvolver, pois além do conhecimento técnico é necessário que haja a personificação da pessoa que está sendo cuidada.
De acordo com Costa e Azevedo, a relação médico-paciente deve ser mais profunda do que apenas a realização de perguntas, exames físicos, receituários de medicamentos e prescrições de condutas, devendo existir a empatia, que remete a sensibilização do médico pelas mudanças sofridas e sentidas pelo paciente. Assim, concluem a sua pesquisa da seguinte forma:
A transmissibilidade da empatia na formação de novos médicos foi apontada mais no contexto do modelo oferecido, no papel do “exemplo”, do que algo a ser de fato ensinado e aprendido. Essa transmissibilidade é fortemente influenciada por características de personalidade e biografia. Momentos de ocorrência dessa prática são rarefeitos e fragmentados ao longo do curso médico, com carga de importância “docente-dependente”, fato que remete, sobretudo, à própria formação dos docentes envolvidos. Reformas curriculares que reforcem positivamente o treinamento de habilidades voltadas à consolidação de práticas e à vivência de uma RMP salutar poderiam ter como alicerce a empatia.[2]
Costa e Azevedo, conforme fragmento do texto acima, constatam que na graduação os médicos não são estimulados a terem o comportamento do curador ferido. Essa mesma constatação pode ser observada no filme “O golpe do destino”, quando o Dr. Jack descobre que tem câncer e passa a ser tratado por uma medica que possui características iguais as dele (arrogante e distante dos pacientes). Dr. Jack, após ser informado que teria que fazer uma cirurgia para conseguir a cura do câncer, percebe que não quer que ela seja realizada pela Dra. que o estava atendendo, mas sim pelo Dr. Mackee, antigamente considerado por ele um péssimo médico, pois via seus pacientes como sujeitos únicos que possuem suas dores, alegrias, sofrimentos e não como objetos que devem ser concertados e posteriormente voltaram a ser o que eram antes de terem passado pelo processo da doença.
Desta forma, percebe-se que o estudo do arquétipo do curador ferido é essencial para o campo da saúde, sendo de extrema importância a sua compreensão e estímulo. Assim, da mesma forma que o Dr. Jack fez com que os seus residentes desenvolvessem o curador ferido neles, através de suas internações por 74 horas no hospital como pacientes, é necessário que seja estimulado o curador ferido em todos os profissionais da saúde.
[1] Conforme o dicio online empatia pode ser definida como: “Identificação de um sujeito com outro; quando alguém, através de suas próprias especulações ou sensações, se coloca no lugar de outra pessoa, tentando entendê-la.”. Disponível em: https://www.dicio.com.br/empatia/. Acessado em: 09.04.2017.
[2] – da Costa, Fabrício Donizete, and Renata Cruz Soares de AzevedoI. "Empatia, relação médico-paciente e formação em medicina: um olhar qualitativo." Revista Brasileira de Educação Médica 34.2 (2010): 261-269.
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